A partir de 2027, as empresas do Simples Nacional enfrentarão um novo cenário operacional. A grande dúvida não será apenas "quanto eu pago", mas "quanto meu cliente recupera".
A Lógica do Crédito no Novo Sistema
O IBS e a CBS funcionam no sistema de não-cumulatividade. Isso significa que o imposto pago em uma etapa da cadeia vira um "crédito" para a próxima empresa. No Simples Nacional, existem dois caminhos:
Recolhimento por dentro (No DAS): O imposto é simplificado, mas o crédito que você "passa" para frente é limitado ao que você pagou.
Recolhimento por fora (Regime Regular): Você paga a alíquota cheia (estimada em 26,5%), mas transfere o crédito integral para seu cliente e pode se creditar das suas compras.
Simulações Práticas: O impacto no preço
Imagine uma venda de R$ 200,00 para um cliente que é uma empresa (Mercado B2B).
| Detalhes da Simulação | Cenário A: "Por Dentro" (DAS) | Cenário B: "Por Fora" (IVA Cheio) |
|---|---|---|
| Custo de Compra | R$ 100,00 | R$ 100,00 |
| Crédito para você | R$ 0,00 | R$ 26,50 (26,5%) |
| Preço de Venda | R$ 180,00 | R$ 180,00 |
| Imposto da Venda | R$ 10,00 (Ex: 5% no DAS) | R$ 47,70 |
| Imposto pago por você | R$ 9,00 | R$ 21,20* |
| Crédito para o seu cliente | R$ 9,00 | R$ 47,70 |
| Custo Real para o Cliente | R$ 171,00 | R$ 132,30 |
*Cálculo do Cenário B: Débito na venda (R$ 53,00) (-) Crédito na compra (R$ 26,50) = R$ 26,50 imposto a pagar.
Prós e Contras: Qual caminho seguir?
| Regime | Prós ✅ | Contras ❌ |
|---|---|---|
| Por Dentro (DAS) |
• Menor desembolso de imposto direto. • Simplicidade burocrática (guia única). • Ideal para vendas ao consumidor final (CPF). |
• Torna seu produto mais caro para outras empresas. • Risco de perda de contratos no mercado B2B. • Sem direito a crédito nas compras. |
| Por Fora (IVA) |
• Crédito integral para o cliente (mais competitivo). • Direito a crédito sobre insumos e compras. • Atrai grandes compradores corporativos. |
• Aumento do valor pago em guias de impostos. • Maior complexidade contábil e operacional. • Exige gestão rigorosa de notas de entrada. |
Nuances Importantes no Aproveitamento de Crédito
Não basta apenas estar no regime "por fora" para garantir o crédito. Existem regras claras sobre o que gera ou não esse direito:
Vinculação à Atividade Econômica: O crédito só é permitido para bens e serviços que são essenciais para o seu negócio. Um computador para a recepção do hotel gera crédito; um presente pessoal para um sócio, não.
A Natureza do Gasto: Gastos com benefícios para funcionários, como planos de saúde, são considerados "consumo final" da empresa e, no novo modelo de IVA, não geram crédito de CBS/IBS (embora ainda possam ajudar na dedução do IRPJ no Lucro Real).
Itens Isentos ou Alíquota Zero: Se você compra um produto que faz parte da cesta básica nacional (com alíquota zero), não houve imposto pago na etapa anterior. Logo, não há "crédito" a ser recuperado.
A "Carteira" Separada: Lembre-se que o sistema é dual. Crédito de CBS (Federal) só abate débito de CBS. Crédito de IBS (Estadual/Municipal) só abate débito de IBS. Eles não se misturam!
Conclusão: Uma Decisão Estratégica e Reversível
A decisão entre manter o recolhimento unificado ou optar pelo modelo "por fora" depende diretamente do seu público-alvo:
Foco no Consumidor Final (CPF): O Simples "por dentro" costuma ser a melhor escolha para proteger sua margem de lucro, já que seu cliente não aproveita créditos.
Foco no Mercado Corporativo (B2B): O Simples "por fora" pode ser a chave para manter sua competitividade e não ser trocado por um concorrente que ofereça crédito integral aos compradores.
Quando posso mudar de ideia?
Você não precisa ter medo de errar para sempre. A regulamentação (baseada na LC 214) prevê janelas de oportunidade para você revisar sua estratégia:
Mudança Periódica: A escolha entre o regime "por dentro" ou "por fora" poderá ser alterada.
Janelas de Opção: A decisão poderá ser feita uma vez por ano, com janelas de revisão geralmente previstas para abril e setembro.
Planejamento: Isso significa que, se você ganhar um grande contrato corporativo no meio do ano, poderá se planejar para ajustar seu regime de crédito na próxima janela disponível, adaptando seu negócio à nova realidade de faturamento.
Importante: Converse com o seu contador e veja qual opção fará mais sentido para a sua empresa
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